São Paulo, SP

Maconha na gestação – prejudica desenvolvimento neurológico dos bebês

Materia publicada no site:http://www.revistapesquisa.fapesp.br

Na tentativa de descobrir quais as conseqüências do uso de maconha
na gravidez, uma equipe de neonatologistas, psicólogos e psiquiatras da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) investigou como a droga interfere
no desenvolvimento neurológico do feto. A análise de bebês cujas mães
consumiram maconha nos três últimos meses de gravidez constatou, nos primeiros
dias de vida, que eles eram mais estressados, menos sensíveis a estímulos
externos, mais chorões e mais difíceis de serem acalmados de crises de choro do
que bebês que não foram expostos à droga. “A maconha é a droga ilícita mais
consumida do mundo e cujos efeitos são os menos estudados”, diz o coordenador
do trabalho, Ronaldo Laranjeira, do Departamento de Psiquiatria da Unifesp.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores avaliaram a
coordenação motora, o reflexo, o tônus e procuraram sinais de estresse em 561
filhos de mães adolescentes saudáveis que nasceram no Hospital Mário de Moraes
Altenfelder Silva, na zona Norte da capital paulista, entre junho de 2001 e
novembro de 2002. O trabalho de doutorado da pediatra Marina Moraes Barros se
concentrou no estudo de bebês com peso apropriado para a idade gestacional de
37 a 42 semanas que não enfrentaram nenhuma dificuldade durante o parto e cujas
mães não consumiram nenhum outro tipo de droga durante a gravidez. Por meio da
análise do fio de cabelo das adolescentes, o grupo detectou que 26 delas tinham
consumido maconha nos últimos meses de gestação. O teste foi confirmado com o
estudo das primeiras fezes da criança, onde também foram encontrados resíduos
da droga.

Durante os exames, os bebês que tiveram contato com a maconha se
mostraram mais inquietos, desatentos e estressados. Os pesquisadores observaram
que eles tinham um sono conturbado e mais dificuldade de acordar. Neles,
aqueles tremores e movimentos bruscos, bastante comuns entre recém-nascidos,
apareceram com mais freqüência.

Entre os testes para avaliar a atenção das crianças, os
pesquisadores observaram sua capacidade de acompanhar com os olhos o movimento
de uma bola vermelha, movimentada em frente ao rosto de cada uma delas. Algumas
das que foram expostas à maconha mal olharam para a bola e a maioria delas
demonstrou pouco interesse. Os cientistas utilizaram outros objetos como um
chocalho e um apito para testar a reação a estímulos visuais e sonoros e
concluíram que estas crianças eram mais desatentas. “Esse comportamento
alterado nas primeiras 72 horas de vida significa que podem existir problemas
na formação do cérebro dos bebês”, interpreta Ruth Guinsburg, do Departamento
de Pediatria da Unifesp, que coordenou a pesquisa clínica dos recém-nascidos.
Segundo ela, é provável que o consumo de maconha pela mãe altere no bebê a
comunicação entre os neurônios acionada pelo neurotransmissor dopamina e
associada ao controle de sensações como a excitação e a irritabilidade.

Esses 26 recém-nascidos, porém, não estão condenados a nenhum tipo
de deficiência neurológica. O desenvolvimento do cérebro não depende apenas de
fatores biológicos, mas também do ambiente e da maneira como esses bebês serão
criados. Pequenos detalhes como a atenção, o cuidado, a disponibilidade da mãe
e de outros familiares de estarem sempre perto, estimulando a percepção do bebê
com brincadeiras e com afetividade, são decisivos para sua formação. Sabendo
disso, os pesquisadores decidiram traçar um perfil social, econômico e
psicológico dessas mães adolescentes, para ter uma idéia do ambiente em que
eles serão criados e quais as chances de obter um desenvolvimento saudável. O perfil,
publicado em janeiro deste ano na revista Cadernos de Saúde Pública, foi
traçado a partir de entrevistas com todas as 928 mães adolescentes que tiveram
filhos no Hospital Mário de Moraes durante os dois anos de estudo. Nesse número
estão incluídas as 561 mães que participaram da pesquisa sobre a maconha e as
demais mães adolescentes que haviam sido excluídas do estudo porque não
atendiam ao padrão de saúde ou porque durante a gravidez consumiram outros
tipos de droga.

Os pesquisadores encontraram um quadro desanimador: uma em cada
cinco adolescentes, com faixa etária média de 15 anos, já era mãe do segundo
filho e 90,4% delas estavam desempregadas. Mais de metade das meninas tinha
baixa renda e até sete anos de escolaridade. Durante a gestação, 294 contaram
usar álcool, 17 maconha e cocaína e 6 relataram uso de drogas injetáveis. Além
disso, 8 em cada 10 adolescentes não pretendiam ser mães e por causa da
gravidez 67,3% pararam de estudar.

Para complicar ainda mais esse quadro, em outro momento da vida, boa
parte delas já tinha enfrentado problemas de violência doméstica, 81 tinham
sido atacadas com arma e 51 meninas foram vítimas de violência sexual. Só no
decorrer da gravidez a polícia precisou ser acionada em 21 ocasiões para
resolver conflitos domésticos. E, como se não bastassem dificuldades, como a
inexperiência da mãe adolescente e sua falta de maturidade, a  equipe
constatou que uma em cada três jovens tinha pelo menos uma desordem
psiquiátrica, um índice bastante alto que provavelmente representa mais um
obstáculo na criação e no crescimento sadio da criança. O diagnóstico mais
freqüente foi depressão, transtorno do estresse pós-traumático e ansiedade.

Na opinião de Laranjeira, é bem provável que todos esses problemas
não tenham se desenvolvido de maneira independente. “Alguns estudos sugerem que
quanto maior a pobreza, mais baixo o nível educacional e menor o suporte
familiar, maiores são as taxas de gravidez na adolescência, associada ao
consumo de drogas”, explica. Agora os pesquisadores pretendem acompanhar o
crescimento dessas crianças tanto para descobrir quais são os efeitos de longo
prazo da exposição do feto à maconha como para auxiliar e contribuir para seu
desenvolvimento saudável. No entanto, até o momento, o que a equipe constatou
foi que os efeitos provocados pela exposição do feto à maconha apenas se somam
a outros problemas encontrados no ambiente em que essas crianças irão crescer –
alguns deles são sérios como a exposição à violência – e que provavelmente
interferem de modo significativo no futuro delas.

0

Comentários (3)

Este artigo foi muito util para um trabalho de curso. Obrigada pelas informações.

Oi Verônica, não sei ao certo..o estudo acima foi feito com gestantes que utilizaram a droga nos últimos 3 meses de gestação…Minha opinião é parar o quanto antes…se vc está querendo engravidar. obrigada
Valeria

na minha opinião ,eu acho que a maconha nao faz mal ao bebe ,o que faz mal msm e beber bebidas alcólicas e fumar cigarro pq tem produtos toxicos e muita quimica .porem a maconha é natural nao tem nd de agrotoxicos nela ,se fizese mal msm nossos ancestrais nao usariam maconha para amenizar as dores que suas mulheres gravidas sentiam……acho que antes de comentar algo tão importante deveria-se pesguisar bastante sobre o assunto.

Deixe um comentário